O debate entre candidatos à Prefeitura de São Paulo, promovido em parceria entre a Folha de S. Paulo e o UOL nesta segunda-feira (30), foi marcado por troca de acusações, quase nada de proposta e apelos a citações bíblicas.
Os candidatos Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB) voltaram a elevar o tom nas trocas de farpas, com algumas intervenções de Guilherme Boulos (Psol) nas incriminações. Os três, que lideram as pesquisas de intenções de votos, até mesmo com o registro de empate técnico triplo, apostam na estratégia de desqualificar os adversários para se destacar. Nessa tentativa, no entanto, deixaram as propostas de lado.
Tabata Amaral (PSB), que aparece distante dos nomes acima nas pesquisas, foi a única que focou em apresentar mais propostas ao eleitorado e condenou as trocas acusatórias entre os três homens.
Marçal x Nunes
O momento de maior tensão foi quando Pablo Marçal, que foi o que menos focou em propostas e mais nos ataques, insistiu que Ricardo Nunes respondesse porque sua esposa, Regina Carnovale Nunes, registrou um boletim de ocorrência por violência doméstica, ameaça e injúria, em fevereiro de 2011. O assunto é um dos mais sensíveis para Nunes e já foi o estopim para brigas mais calorosas entre os candidatos em outros momentos.
No relato feito à polícia, a esposa afirmou que o atual prefeito era excessivamente ciumento. “Inconformado com a separação, [Nunes] não lhe dá paz, vem efetuando ligações proferindo ameaças, envia mensagens ameaçadoras todos os dias e vai em sua casa onde faz escândalos e a ofende com palavrões. Afirma a vítima que diante da conduta de Ricardo, está com medo dele”, informa um dos trechos do boletim de ocorrência.
No debate, Marçal pediu para que Nunes falasse sobre o assunto por pelo menos 10 vezes, mas foi ignorado em todas elas. “A pergunta é por que que a sua esposa registrou boletim de ocorrência por violência doméstica?”, questionou o ex-coach ao que Nunes apenas respondeu que nunca “levantou um dedo” para a sua companheira e concluiu: “Como você é baixo, cara”.
De acordo com as regras do debate, os candidatos tinham 20 minutos para administrar ao longo de todo o debate. Ao ser questionado sobre a acusação de violência doméstica pela sexta vez, Nunes só tinha 23 segundos e, ao final do debate, não respondeu à acusação por falta de tempo.
Nunes x Boulos
O prefeito também protagonizou um embate direito com Boulos sobre mudanças de posicionamentos. O psolista lembrou que Nunes afirmou anteriormente que se arrependeu de ter exigido o passaporte da vacina para que paulistanos frequentassem ambientes fechados durante a pandemia da covid-19, numa mudança de posicionamento até então desconhecida.
“Tudo o que Ricardo Nunes diz aqui é para esconder aquilo que ele não fez. Ele fica aqui vomitando número e número. Esses dias você falou que eu não tenho experiência nem para gerir um carrinho de cachorro-quente. Eu fico imaginando um carrinho de cachorro-quente gerido por você, o cachorro-quente ia custar uns 300 reais, porque a salsicha ia ser superfaturada como foram as obras de emergências. A salsicha ia vir do compadre. A mostrada ia ser comprada do amigo”, afirmou Boulos.
Em resposta, Nunes afirmou que Boulos “fica colocando as coisas de uma forma errada e sem prova para as pessoas”. “São Paulo, é inegável, nós estamos batendo recorde de investimentos. Ninguém tem experiência de nada. Eu fico indignado é que as pessoas colocam coisas aqui que não são verdadeiras”, disse.
Boulos x Marçal
Boulos também trocou farpas com Marçal, que voltou ao assunto do suposto uso de cocaína por parte do psolista. A acusação foi levantada pelo ex-coach ainda no primeiro debate, promovido pela Band em 8 de agosto, mas sem a apresentação de provas até agora. Agora, Marçal disse que mostraria informações registradas no Hospital do Servidor sobre o assunto no próximo encontro, mas que foram adiantadas por Boulos.
“A baixaria do Marçal não tem limite. É impressionante quando alguém vem para campanha só para atacar e tumultuar. Ele investiu na mentira sobre a cocaína trabalhando com homônimo. Com 19 anos, eu enfrentei uma depressão crônica e fiquei alguns dias no Hospital do Servidor. Isso pode ser confirmado pelos prontuários do hospital e será. O Marçal trabalha assim, com lama, mentira, atacando reputações e desrespeitando as pessoas. Uma pessoa como essa não teria condições de ser candidato, muito menos prefeito”, disse Boulos.
Com a resposta do deputado federal, Marçal mudou de assunto. “Os princípios do Guilherme são depredar patrimônio público. Ele fala isso que faz isso em defesa das pessoas, mas não tinha ninguém dentro da Fiesp. Segundo lugar, ele apoiou a ‘rachadinha’ quando poderia moralizar o Congresso Nacional. Ele sempre defendeu batendo no peito a descriminalizando todas as drogas. Não liberem o Guilherme para ser prefeito. Ele não dá conta de ‘Lulinha paz e amor’”, disse Marçal. Em resposta, Boulos afirmou que o ex-coach “tentou forçar mais uma fake news, acabou de ser desmascarado ao vivo e aí mudou de assunto”.
Citações religiosas
Numa estratégia paralela, Nunes e Marçal exploraram as citações bíblicas numa tentativa de se aproximar do eleitorado evangélico. Ambos lideram as intenções de voto neste grupo, sendo que o ex-coach tem a maior parte deste eleitorado, de acordo com as pesquisas, a despeito do apoio explícito de pastores como Silas Malafaia e de Jair Bolsonaro (PL) a Nunes.
“Eu vou deixar para você [Marçal] uma mensagem importante, o Salmo 133, que é o você não conseguiu fazer no nosso ambiente: ‘Oh, quão bom e quão agradável é que os irmãos habitem em união’. Você só veio para tumultuar, Pablo Henrique. Eu tenho minha vida dentro da igreja. Tenho um grupo de oração dentro da minha casa”, disse Nunes ao ser solicitado por Marçal a citar pelo menos um trecho bíblico.
“Eu sou o único aqui que não tem cola. A arrogância de vocês vai levar vocês à ruína. Já que você citou Salmos, eu vou colocar Salmos 69, onde está escrito que o zelo pela sua casa me consumiu. Todas as vezes que você me vê indo para um confronto, eu nunca vou negar, porque o verdadeiro cristão vai para o confronto. Jesus não poupou Pedro, os cambistas”, disse Marçal.
O candidato do PRTB também voltou a dizer que, se eleito, irá “prender” Nunes devido às investigações sobre o desvio de dinheiro público em contrato com organizações que fazem a gestão de creches. “Se a gente não canonizar você até o final da eleição, eu sei o que a gente vai fazer com você. Nós iremos fazer algo poderoso, vamos ter que colocar você, através da Polícia Federal, aquilo que você está todos os dias sabendo que vai acontecer por causa das merendas”, disse Marçal.
Edição: Nathallia Fonseca