O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, afirmou nesta terça-feira (1º) no Conselho da Europa que foi libertado depois de se declarar “culpado por ter feito jornalismo”, em suas primeiras afirmações públicas desde que saiu da prisão no Reino Unido.
O jornalista quebrou o silêncio pela primeira vez desde a sua libertação em junho da prisão de Belmarsh, em Londres, em uma comissão do Conselho da Europa em Estrasburgo, no nordeste da França, que examinou as condições e o impacto da sua detenção.
“Hoje não estou livre porque o sistema funcionou, mas sim porque, depois de anos de prisão, me declarei culpado por ter feito jornalismo”, disse Assange, que passou os últimos 14 anos preso entre a embaixada do Equador em Londres e a prisão britânica.
“Eu me declarei culpado por buscar informações de uma fonte e me declarei culpado por informar o público sobre a natureza dessas informações. Não me declarei culpado por nenhuma outra acusação”, disse.
O Conselho da Europa é uma organização de 46 países não vinculado à União Europeia e dedicado à promoção dos direitos humanos neste continente. Entre suas organizações estão a Assembleia Parlamentar e o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
A Assembleia Parlamentar vai debater na quarta-feira (2) um relatório, elaborado pela parlamentar islandesa Thorhildur Sunna Aevarsdottir, que considera “desproporcionais” as ações judiciais e as sentenças contra o australiano, que descreve como “preso político”.
Este relatório é também a base de um projeto de resolução que insta os Estados Unidos a “investigar os supostos crimes de guerra e violações dos direitos humanos revelados por ele e pelo WikiLeaks”, declarou a organização.
Acordo de libertação
A libertação de Assange ocorreu após um acordo com a Justiça dos Estados Unidos, no qual se declarou culpado de obter e divulgar informações sobre defesa nacional, incluindo relatos de execuções extrajudiciais e informações sobre aliados.
Declarado um “homem livre”, Assange voltou à Austrália e se reuniu com sua família. Desde então, não tem sido muito visto, embora o WikiLeaks e sua esposa Stella, que o acompanhou em seu depoimento, tenham divulgado algumas informações.
Na quarta-feira da semana passada, sua organização informou que ele testemunharia pessoalmente ao Conselho da Europa “devido à natureza excepcional do convite” e apesar de “ainda estar em recuperação após sua libertação”.
Assange disse esperar que seu depoimento possa “ajudar aqueles cujos casos são menos visíveis, mas que são igualmente vulneráveis”, e denunciou que há cada vez “mais impunidade, menos transparência, mais retaliação” contra aqueles que dizem “a verdade” e “mais autocensura”. “O jornalismo não é um crime, é o pilar de uma sociedade livre e informada”, afirmou. “Continuem a luta!”, pediu Assange no final de suas declarações.
O presidente dos EUA, Joe Biden, que deve conceder alguns indultos antes de deixar o cargo em janeiro, já chamou o australiano de “terrorista de alta tecnologia”.
*Com AFP
Edição: Leandro Melito