A Pedra do Sal, um dos maiores símbolos da cultura negra carioca, vive há algum tempo uma grande mudança. Aquele reduto que abrigava rodas de samba raiz e era um ponto de encontro da galera que saia do trabalho ou da faculdade, hoje se vê inundado por turistas em busca de uma experiência cultural “autêntica”. Mas o que sobrou da alma da Pedra do Sal?
A região, batizada por Heitor dos Prazeres como “Pequena África”, era muito mais do que um ponto turístico. Era um espaço de resistência, de troca cultural e de identidade. Ali, o samba nasceu e se desenvolveu, e os terreiros de candomblé encontravam um espaço de liberdade.
A revista TimeOut destacou a Pedra do Sal como um dos lugares imperdíveis na cidade do Rio de Janeiro, porém eu consigo listar vários motivos para você não ir. Tudo absurdamente caro (tirando as caipirinhas que defenderei), a falta de banheiros, os repetidos furtos dentro do espaço e assaltos ao redor; e claro, a invasão gringa.
O que antes era um espaço de encontro para a comunidade negra, hoje é um palco para eventos, muitas vezes com um público predominantemente branco e de classe média. Posso provar meu ponto com uma cena que viralizou. Um baile charme, que aqui eu não preciso ser redundante ao explicar, foi invadido pela música “Blank Space” de Taylor Swift. A reação do público, de maioria branco, contrastou com a história e a tradição do local, gerando um debate importante sobre a apropriação cultural e a perda da identidade do lugar.
A gourmetização da região e a proliferação de bares e restaurantes têm afastado os moradores mais antigos e transformado a Pedra do Sal em um espaço cada vez mais homogêneo e voltado para o consumo. Os furduncinhos que normalmente aconteciam nas ruas ao redor e tocavam de funk, pop ao trap, hoje toma conta do espaço para agradar o novo público.
Se você busca um samba de verdade, longe da parafernália turística, a dica é procurar os pagodes da Zona Norte, como o Pagode e Chinelo, que acontece religiosamente às segundas, mesmo dia de maior movimento na Pedra do Sal. Lá você encontra um público mais fiel às raízes do gênero e se der sorte ainda pega uma roda de samba com a Ludmilla.
É preciso encontrar um equilíbrio entre a preservação da identidade cultural da Pedra do Sal e o desenvolvimento turístico da região, investindo em políticas públicas que garantam a segurança, a limpeza e a organização do espaço, mas acima de tudo, o compromisso de preservar sua história e sua cultura.
Gostaria de encerrar esse texto com a positividade do Arlindo de que iremos achar o tom e fazer com que novamente fique bom, mas do jeito que o show tem continuado, se eu fosse você, não iria para os rolés da Pedra do Sal.
Essa matéria foi escrita pelo colaborador do Sons da Perifa, Bruno Sousa.
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