Nesta terça-feira (1°), a China celebrou os 75 anos do triunfo da revolução socialista. Nos últimos dias, festejos aconteceram em diversas partes do país, incluindo as Regiões Administrativas Especiais de Macau e Hong Kong.
Na manhã desta terça, foi feito um hasteamento da bandeira especial na Praça Tiananmen. A cerimônia ocorre todos os dias desde o 1° de outubro de 1949, quando Mao Zedong apertou um botão e a bandeira da República Popular da China foi hasteada pela primeira vez no país de forma automática. O filme Meu Povo, Meu País ( lançado em 2019, para comemorar o 70º aniversário do estabelecimento da RPC), mostra a história do engenheiro que construiu o mecanismo para automatizar o hasteamento.
No dia primeiro de outubro de 1949, foi realizada em Pequim a primeira reunião do Comitê do Governo Popular Central. Às três da tarde desse dia, o líder Mao Zedong anunciava diante de 300 mil pessoas na Praça Tiananmen, em Pequim, a fundação da República Popular da China (RPC).
Desde esse momento a China mudou muito, apesar de continuar sendo um país em desenvolvimento. Em 2020, a China anunciou a erradicação da extrema pobreza no país e afirmou que desde o processo de Reforma e Abertura, em 1978, o país tirou 850 milhões de pessoas da pobreza.
De toda a redução da extrema pobreza feita durante esse período no mundo, a China foi responsável por 75%, segundo dados do Banco Mundial.
Esse último processo fez parte da chamada primeira meta centenária. Desde 1997, sob a liderança de Jiang Zemin, foram estabelecidas as duas metas centenárias: a primeira se referia ao centenário do Partido Comunista da China (1921-2021); o objetivo para esse momento era a de construir uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos.
A segunda meta tem a ver com o centenário da RPC (1949-2049). O objetivo neste caso é que a China tenha se tornado um “país socialista moderno próspero, forte, democrático, culturalmente avançado e harmonioso”.
O que disse Xi Jinping
O presidente chinês deu dois discursos nos marcos das comemorações, um durante a cerimônia de entrega das medalhas nacionais e títulos honorários da República Popular da China, onde a presidenta Dilma Rousseff se tornou a primeira brasileira a obter a honraria. O outro foi na chamada recepção comemorativa do 75º aniversário da fundação da RPC, que contou com a participação de centenas de pessoas de todo o país, além de convidados dos corpos diplomáticos, no Grande Salão do Povo em Pequim. O Brasil de Fato esteve presente em ambos.
No primeiro Xi Jinping homenageou os heróis do país e conclamou o país a “atender às novas exigências do desenvolvimento dos tempos, aprender novos conhecimentos, dominar novas habilidades, amar e se concentrar no que faz, ser dedicado e diligente e se esforçar para se tornar um especialista”.
Além de heróis militares, os reconhecimentos foram concedidos para pessoas destacadas em suas profissões, como o economista Zhang Zhuoyuan, com o título de Contribuidor Destacado em Pesquisa Econômica, a atriz Tian Hua, com o título Artista do Povo, e Lu Shengmei que recebeu o título de Trabalhadora da Saúde Popular.
O reconhecimento de Shengmei, por exemplo, foi por seu “compromisso de longa data de melhorar a assistência médica em regiões menos desenvolvidas” e “por ter liderado esforços para promover práticas de parto mais seguras e reduzir a mortalidade infantil” em sua região.
Xi Jinping finalizou seu discurso chamando o país a criar uma “nova história” e no final agradeceu a presidenta Dilma Rousseff. “Nos últimos 75 anos, tivemos muitos velhos amigos e bons amigos no mundo que compartilham os mesmos objetivos e estiveram com o povo chinês nos bons e maus momentos. A sra. Dilma Rousseff, que hoje recebe a Medalha da Amizade, é uma representante destacada entre eles”.
Dilma por sua vez afirmou que “o compromisso assumido pela China com a reforma e abertura não apenas permitiu a retirada de centenas de milhões de pessoas da pobreza como contribuiu de forma significativa para o crescimento econômico e estabilidade globais”.
Modernização chinesa e centralidade do Partido
O segundo discurso esteve centrado nas tarefas para trabalhar pela modernização de caráter chinês.
Xi Jinping descreveu quatro condições para a garantia da modernização chinesa, a adesão à liderança do Partido; ao socialismo com características chinesas (onde incluiu o aprofundamento e expansão da Reforma e Abertura); à abordagem centrada no povo; e ao caminho do desenvolvimento pacífico.
O mandatário chinês afirmou que “a reunificação completa da pátria (…) é a tendência geral, a grande causa e a vontade do povo”. Ele havia mencionado antes o desenvolvimento da política de “um país, dois sistemas”, referentes às Regiões Administrativas Especiais de Macau e Hong Kong, mas que também foram ideadas pelo líder Deng Xiaoping para Taiwan. Também falou em garantir um alto grau de autonomia e de garantir as políticas de “povo de Hong Kong governando Hong Kong” e “povo de Macau governando Macau”.
Taiwan
Em discursos em geral de Xi, Taiwan sempre está presente. Desta vez ele afirmou que “Taiwan é o território sagrado da China”. A “reunificação completa” se refere em boa parte a recuperar a ilha. Esse objetivo também é importante para a meta de “rejuvenescimento da nação chinesa”, que pode se resumir a ideia de superar as mazelas provocadas ao país durante o chamado século da humilhação, que vai desde a Primeira Guerra do Ópio, em 1839 até o triunfo da revolução em 1949. Nesse período, a China perdeu Taiwan.
Embora não haja um planejamento ou cronograma público em relação à reunificação com Taiwan, isso deveria acontecer no processo da segunda meta centenária, mencionada acima. Em um discurso em 2019, Xi Jinping afirmou que “A reunificação da pátria é uma missão sagrada que a história confiou à nossa geração”.
O Exército estadunidense vem insistindo na especulação de que existiria um plano chinês para recuperar Taiwan em 2027. O lado chinês afirma que isso vem sendo feito para criar uma “atmosfera de guerra” na região.
Multipolaridade e América Latina e Caribe
O chefe da Missão da América Latina e Caribe e embaixador do Uruguai na China, Fernando Lugris, conversou durante as comemorações com o Brasil de Fato. “A China se tornou um parceiro econômico fundamental de boa parte das economias da região, e é por isso que nós, países da América Latina e Caribe, nos somamos às comemorações do 75º aniversário em Pequim e aproveitamos esta ocasião para pensar no futuro das parcerias estratégicas integrais entre nossos países da América Latina e Caribe e a China”.
Junto a outros grandes países do Sul Global, como o Brasil, a China tem insistido na necessidade de reformar as instituições internacionais para que reflitam a realidade geopolítica atual.
China e Brasil têm trabalhado juntos esse ano em uma proposta para solucionar politicamente a crise na Ucrânia.
Para Lugris, esse é um dos destaques em relação às parcerias entre os países latino-americanos e caribenhos e a China.
“Um dos elementos fundamentais do diálogo entre a América Latina, o Caribe e a China é a defesa do multilateralismo e também do sistema de paz e segurança internacional”.
Ele afirma que o gigante asiático e nossa região, sendo uma zona não nuclear, deve defender um novo sistema internacional onde a paz e a segurança “estejam no centro dos nossos trabalhos”.
Edição: Rodrigo Durão Coelho